Desde nosso primeiro trabalho recebemos sugestões de traduções, haja visto que desde o princípio procuramos pelos Outcasts do sistema Storyteller. Primeiro publicamos um título ignóbil, mas que trazia consigo um charme incompreendido. Os Gypsies, ou Ciganos eram seres que habitavam um mundo de trevas junto a vampiros, lobisomens, fadas, aparições, magos... eles eram como um coringa para o MdT. Caídos na desconsideração geral, foram negligenciados em sua beleza simples e ingênua, um sabor que se perdeu a partir de uma edição revisada.
Mas voltando ao assunto principal. Por que realizar uma tradução? Por que atenderíamos o pedido de alguém que solicita um título do qual gostaria de ver uma versão em português? Se fossemos seguir nosso preceito máximo, nossa diretriz de intervenção, diríamos: “Faça você mesmo...” “Vá em frente cara, compre o livro em inglês e meta ficha, traduza, aprenda uma língua estrangeira, seja ela espanhol, inglês, francês, alemão, mandarim, e faça sua própria versão do livro que quer ver em português”. Infelizmente não é o que tem acontecido.
Quando dei início à primeira tradução pensei: “Revolucionarei o mundo... Todos começarão a traduzir seus próprios livros e em breve teremos vários, dezenas, dúzias de grupos trabalhando para construir um Velho Mundo das Trevas”. Não percebi a pequenez de minha prepotência. Obviamente não mudaria mundo algum. Não com traduções de livros em inglês. Entretanto, tinha satisfação em fazer aquilo, tanto em me envolver com pessoas que não conhecia e trabalhar em parceria, traduzir, dar pitacos na diagramação, me meter a líder de alguma coisa, qualquer coisa.
Comecei à sombra do Movimento Anarquista, traduzindo para eles o Livro do Clã Giovanni. Faltava algo, queria mexer com programas de computador, trabalhar com a montagem de um texto, e fui adiante. Aprendi a usar o processador de diagramações na marra, tentativa e erro, tentativa e acerto. Contatei pessoas interessantes e interessadas. Juntos fizemos nós mesmos: “Livro do Clã Tzimisce”. E a partir daí foi uma empreitada. Hoje os Jogadores de Papel têm dez títulos, muito aquém da Nação Garou, em quem nos espelhamos, mas um número considerável, contando o exíguo número de colaboradores.
Mas outra vez fugindo da dispersão: Por que realizar uma tradução? Por que é bom, por que eu, particularmente, gosto de fazer isso, e por que eu usarei esses livros em minhas crônicas/campanhas/épicos. A publicação é um subproduto dessa satisfação primária, mas a gratificação que se tem com os comentários que se fazem a respeito desse esforço (certa feita criticado por sujeitos que se consideravam “hegemônicos”; águas passadas) é inigualável. O ego inflado me faz andar de peito estufado na rua.
Por isso, mais do que sugerir um “Faça Você Mesmo” aqui e acolá nas publicações dos Jogadores, sugiro que vocês, RPGistas, metam a mão na massa, seja por que necessitam de um material que nem sempre estarão dispostos a ler em inglês ou por seus amigos não conseguirem ler, seja por que queiram experimentar a sensação de produzir algo que outras pessoas possam apreciar, seja por que gostem de elogios. O “Faça Você Mesmo” não é apenas uma frase solta, é uma forma de ver o mundo, independente e autônomo.
Por isso, de maneira bem brusca e até deselegante, sugiro para que antes de sugerir uma tradução ao grupo pense “Por que não eu?”, e leve adiante a formulação de um grupo próprio, ou caso não queira ir tão fundo, proponha um projeto a um grupo existente, e comece a se envolver no processo de tradução.
Um pensamento que admiro muito diz que aqueles que identificam o problema devem, imediatamente, estar no grupo que procurará a solução. Aplicando ao nosso “Por que Realizar uma Tradução”, aqueles que gostariam de ver um título traduzido devem, desde já, participar do grupo de tradução deste título. Afinal, se eu consegui, vocês também conseguem.
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